quinta-feira, 29 de abril de 2010

Lenda do tambor africano

Dizem na Guiné que a primeira viagem à Lua foi feita pelo Macaquinho de nariz branco. Segundo dizem, certo dia, os macaquinhos de nariz branco resolveram fazer uma viagem à Lua a fim de trazê-la para a Terra. Após tanto tentar subir, sem nenhum sucesso, um deles, dizem que o menor, teve a ideia de subirem uns por cima dos outros, até que um deles conseguiu chegar à Lua. Porém, a pilha de macacos desmoronou e todos caíram, menos o menor, que ficou pendurado na Lua. Esta lhe deu a mão e o ajudou a subir. A Lua gostou tanto dele que lhe ofereceu, como regalo, um tamborinho. O macaquinho foi ficando por lá, até que começou a sentir saudades de casa e resolveu pedir à Lua que o deixasse voltar. A lua o amarrou ao tamborinho para descê-lo pela corda, pedindo a ele que não tocasse antes de chegar à Terra e, assim que chegasse, tocasse bem forte para que ela cortasse o fio. O Macaquinho foi descendo feliz da vida, mas na metade do caminho, não resistiu e tocou o tamborinho. Ao ouvir o som do tambor a Lua pensou que o Macaquinho houvesse chegado à Terra e cortou a corda. O Macaquinho caiu e, antes de morrer, ainda pode dizer a uma moça que o encontrou, que aquilo que ele tinha era um tamborinho, que deveria ser entregue aos homens do seu país. A moça foi logo contar a todos sobre o ocorrido. Vieram pessoas de todo o país e, naquela terra africana, ouviam-se os primeiros sons de tambor.
Autor: Fernando Vale
Extraído de: Contos tradicionais dos países lusófonos

fonte:http://www.arnug.com/mep/?page_id=192

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Programa Feito em Casa na Rádio Inconfidência FM 100,9 BH


Feito em Casa – por Mauricio Bianco (Abril 2010)

A intenção desde Feito em Casa foi compartilhar um pouco das músicas que curto e escuto com as pessoas que gosto e agora tenho a oportunidade de dividir com os ouvintes da Rádio Inconfidência. Optei por limitar-me às músicas instrumentais, como forma de complementar as ótimas programações que foram selecionadas nos Feito em Casa que já foram apresentados. Essa limitação, em se tratando de música brasileira, é um tanto quanto abrangente (graças a Deus), o que certamente é um grande privilégio dos ouvintes da Rádio, que toca apenas músicas brasileiras. Mesmo no ambiente instrumental, no cardápio que pretendo servir neste Feito em Casa, tentei diversificar bastante os estilos musicais.

As músicas que trago aqui são parte de uma seleção pessoal, mais do que uma seleção do Tambor Mineiro, já que pelo fato de ser um grupo extremamente heterogêneo, seria impossível escolher 12 músicas que representassem as inspirações dos integrantes, tamanha a diversidade das pessoas que compõem no Tambor Mineiro. De qualquer forma, dentre as músicas, selecionei duas interpretações instrumentais de Mauricio Tizumba e o Tambor Mineiro, que fazem parte do disco Rosário Embolado.

1º bloco
• Noite de Chuva, peça composta numa parceria de Paulo Santos e Mauricio Tizumba com interpretação do grupo Tambor Mineiro, Tizumba e Uakti. É a primeira parceria do Tambor Mineiro com o grupo Uakti. A base da música foi feita com as caixas de Congado tocadas pelo Tambor Mineiro e o arranjo de Paulo Santos complementa harmoniosamente a melodia de marimbas, flauta e instrumentos confeccionados pelo grupo Uakti, luxuosa colaboração para esta faixa. Paulo Santos nas marimbas e tri-mí. Décio Ramos no tri-lá. Artur Andrés na flauta. E Tizumba e Tambor Mineiro nas caixas de Congado.

• Roda Moinho, de Naná Vasconcelo, do disco Trilhas, que é uma seleção de músicas feitas por Naná, ao longo de sua carreira, especialmente para trilhas sonoras de filmes, espetáculos de teatro e dança. Trata-se de poesias musicais de raíz bem brasileira. A música tem percussão de Naná Vasconcelos e flautas de César Michiles.

• Sangue de Bairro (versão instrumental), de Chico Science e Nação Zumbi, feita especialmente para a trilha sonora do filme Baile Perfumado. As imagens do filme onde surge a música são do Parque Nacional Serra da Capivara no Piauí, tanto o som como as imagens são muito intensos. A trilha sonora de Baile Perfumado é toda embalada por Chico Science, Fred Zero Quatro (do Mundo Livre S/A) e Lúcio Maia. Ela compõe uma síntese da tradição nordestina e modernidade no sertão árido e violento de Lampião. Esta música mostra bem a pegada da percussão das alfaias da Nação Zumbi e a fantástica guitarra do Jimmy Hendrix brasileiro, Lúcio Maia.

2º bloco
• Abre-Coco, do excelente violonista mineiro Weber Lopes, do disco Mapa, que se não me engano é o mais recente disco dele. Tive a oportunidade de viajar com ele para Turim em 2008, onde músicos mineiros se apresentaram naquela cidade e realmente pude sentir o quão completo é este músico. Na ocasião ele improvisava com o percussionista Gilson Silveira, mostrando ser dono de uma técnica maravilhosa. Nesta música, Weber no violão, o grande Toninho Ferragutti no acordeom, Zeca Assumpção no contrabaixo acústico, André Limão Queiroz na bateria e Guello no pandeiro e percussão.
• Duerme Negrito, do argentino Atahualpa Yupanqui, muito conhecida na voz da Negra Mercedes Sosa. Esta versão foi interpretada pelo exímio violonista gaúcho Yamandú Costa e o clarinetista Paulo Moura. A música faz parte do excelente disco gravado por Yamandú e Paulo Moura em 2004, chamado El Negro del Blanco, onde um violão ímpar e uma clarineta muito esperta costuram ótimas músicas do cancioneiro popular latino-americano. Esta é apenas uma das excelentes músicas deste disco.
• Berimbau, de Baden Powell e Vinicius de Morais. Um clássico dos afro-sambas de Vinicius e Baden, nesta versão só com um maravilhoso violão de Baden Powell. Esta música se parece com cachaça envelhecida, quando mais passa o tempo, parece que ela fica melhor.

3º bloco
• Cristo Nasceu na Bahia, dos mestres Sebastião Cirino e Duque Bicalho, interpretada por um grupo apaixonado por chorinho chamado Choro & Cia de Juiz de Fora. Esta música foi um grande sucesso do carnaval de 1926 e os autores são grandes músicos lá do início de 1900. Duque Bicalho chegou a lecionar com Villa-Lobos e Sebastião Cirino tocava com Donga e Pixinguinha. Um ótimo choro.

• Frevo Inca, do grupo Pifarinha de Uberlândia, que eu considero um verdadeiro achado. Esta música é do disco De Coco a Barroco que percorre a música tradicional brasileira, com leve toque medieval, misturando-se ao contemporâneo, mas firmada em algo que remete ao povo e aos elementos da natureza. Estes jovens músicos antenados de Uberlândia, fazem um som autêntico, misturando pífanos, sanfona, flauta e inúmeros elementos de percussão, como vamos sentir nessa música de composição de Christiano Rodrigues.

• Solaris/Só mais um Samba, de Rica Amabis e Los Sebosos Postizos, do disco Coleção Nacional, do coletivo de músicos Instituto. Na 1ª parte e na 2ª parte a composição é de Daniel Bozio. A faixa é um dub com percussão eletrônica, baixo e guitarra na 1ª parte que emenda na 2ª metade com um som mais lounge do ex-Mamelo Sound System e uma linda clarineta de Luca Raele.

4º bloco
• No Tranco, do percussionista carioca Siri, do seu 1º trabalho gravado entre 2001 e 2003. Nessa música ele usa um fusca para tirar o som não só de toda a lataria do carro, mas também do motor e até da ignição. Tudo isso junto e ainda somado a um arranjo de trombones, dá um groove muito autêntico e em show o número do fusca realmente é bem performático. A música é do próprio Ricardo Siri.

• Coisa nº 4, do Maestro Moacir Santos, interpretada por Mauricio Tizumba e pelo grupo Tambor Mineiro, com adaptação do saxofonista mineiro Ibraim Netto e um naipe de metais de músicos também de Minas: Ibraim Netto no sax, Wagner Mayer e Hélio Azevedo no trombone tenor, João Vianna no trompete e Raissa Anastásia na flauta transversa. Essa interpretação, que está no disco Rosário Embolado, é uma homenagem a Moacir Santos, compositor, arranjador, maestro e multi-instrumentista nascido no sertão de Pernambuco que era um virtuose em vários instrumentos. Moacir Santos é tido como um dos maiores mestres da renovação harmônica da música popular brasileira. Ele foi professor de músicos como Baden Powell, Paulo Moura, João Donato, Nara Leão, Roberto Menescal, Sérgio Mendes e outros importantes nomes da música brasileira. Ele realmente era uma fera! A adaptação de Ibraim foi feita com base nas caixas de Congado tocadas pelo Tambor Mineiro no ritmo moçambique serra-baixo e com congas tocadas por Tizumba. Nesta adaptação há um diálogo entre a música tradicional dos terreiros de Congado de Minas com uma composição harmônica e sofisticada de Moacir Santos.

• Dança dos Meninos, esta pérola de composição de Marco Antônio Guimarães e Milton Nascimento, numa versão instrumental interpretada pelo Uakti. Essa música está no disco Mapa do Uakti. A faixa é leve, alegre ao extremo, finíssima, dá perfeitamente pra imaginar os passarinhos voando e muito mais. Marco Antônio Guimarães trabalhou com Walter Smetak na UFBA, onde aprendeu muito sobre a construção dos instrumentos inusitados do Uakti, com esse alemão-baiano, um dos responsáveis pela fagulha inicial do movimento da Tropicália.